Em todo o país, mais de 10 milhões dos empregadores ou trabalhadores por conta própria (formais e informais) brasileiros são mulheres, o que representa cerca de 34% dos empreendedores brasileiros. A Bahia, segundo o relatório sobre o Empreendedorismo Feminino no Brasil, com números referentes a 2023, possui 633,36 mil (32,94%) donas de negócios, dentre as quais 20% possuem CNPJ.
“A Bahia saiu da marca de 625 mil (em 2022) para 633,36 (em 2023), no universo de empreendedoras. Esse aumento quantitativo é um avanço na busca pelo empreendedorismo, como forma de sobrevivência ou oportunidade. Mais instituições estão olhando para a pauta das mulheres e essa visibilidade leva também a mais políticas públicas voltadas para as mulheres, além de mais incentivo ao crédito. O movimento empreendedor acaba forçando a sociedade a ter esse olhar para as mulheres, sendo mais uma porta na busca pela equidade de gênero”, destaca Rosângela Gonçalves, gestora estadual do programa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Sebrae Delas.
O cenário de pioneirismo feminino quando o assunto é o uso das redes sociais nas vendas também é evidenciado por dados divulgados pelo Sebrae: a proporção de mulheres que vendem utilizando estes canais é de 77%, enquanto 67% dos homens trafegam por esses espaços; no WhatsApp, em especial, 87% das empreendedoras utilizam a ferramenta para viabilizar seus negócios e 81% dos homens utilizam o aplicativo para fazer dinheiro.
Além de utilizar as plataformas de relacionamento para os seus negócios, a empreendedora baiana Evellyn Meneses promove uma feira e divulga os produtos de outras mulheres através das redes sociais. “Sou empreendedora, tinha uma loja de presentes personalizados, e aos 18 anos, a minha mãe veio com o sonho de me ver à frente de um evento próprio. Decidi fazer o curso de publicidade e propaganda quando já tinha o meu evento e uni o útil ao agradável. Iniciamos na Vila Laura, que é o bairro onde moro, e hoje a Expo Vila cresce, em número de expositores e de seguidores, a cada edição”, conta.
A Expo Vila surgiu em 2021 e hoje, mais de 200 marcas já participaram. “Acreditamos no empreendedorismo e unimos força, em especial, no empreendedorismo feminino, agrupando mulheres que, muitas vezes, têm no seu negócio um sonho, o sonho da independência financeira, de uma maior disponibilidade de tempo, da liberdade demográfica. Priorizamos as artesãs, mulheres que possuem marcas inovadoras, criativas e autênticas”, completa a empreendedora.
Este relato é reforçado pela gestora do Sebrae Delas, que afirma que a busca pela qualificação profissional tem sido um fenômeno em ascensão no empreendedorismo baiano, o que torna os negócios mais competitivos e, uma vez empoderada, a empreendedora acaba sendo inspiração para outras mulheres. Como constata a diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margarete Coelho, “ao fortalecer as empresas lideradas por mulheres, nós não apenas contribuímos para gerar mais emprego e renda, mas estamos colaborando para emancipar mulheres”.
“Criei a minha loja online há três anos, com o objetivo de elevar a autoestima das mulheres e decidi me jogar para o empreendedorismo, investindo todo o meu amor, minha criatividade e energia. Para mim, o principal desafio é dar conta de tudo, porque sou sozinha para resolver tudo da loja”, revela Melissa Issa, dona da Pratas da Mel. Como dicas para quem deseja empreender, ela cita o estudo e a iniciativa, pois a insegurança não pode ser um impeditivo para o início de um negócio.
Desafios
Apesar do cenário que revela a presença expressiva de mulheres empreendedoras, desafios ainda. Segundo levantamento feito pelo Sebrae, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a disparidade entre os dois gêneros, em termos de remuneração no empreendedorismo, recuou de 31,4% para 26,7%, em 12 meses (de 2022 para 2023). Elas tiveram um aumento maior (9,4%) que o registrado pelos homens (5,6%): o rendimento médio real das mulheres empreendedoras era de R$ 2.453 e, entre os homens, esse valor ficava em R$ 3.225. Doze meses depois, a remuneração média real das mulheres foi de R$ 2.685 (um crescimento de 9,4%); já a dos empreendedores do sexo masculino ficou em R$ 3.404 (aumento de 5,6%).
De acordo com dados da pesquisa realizada pelo Sebrae em 2023, outros obstáculos são enfrentados pelas empreendedoras brasileiras, como: apoio dos parceiros, influência da maternidade, sobrecarga de responsabilidades, preconceito de gênero, cuidado com a família e tarefas domésticas.
“Empreender é muito desafiador para homens e mulheres, mas para as mulheres acaba sendo um pouco mais: além de lidar com as questões relacionadas ao próprio empreendedorismo, elas precisam lidar também com as questões relacionadas às heranças do machismo e ainda, as mulheres baianas, que são na maioria negras empreendedoras, enfrentam o racismo”, completa a gestora estadual do Sebrae Delas.