Crise na exportação de frutas ameaça economia do Vale do São Francisco com tarifa dos EUA

Amaury Benoit
Amaury Benoit

A fruticultura da Bahia está prestes a enfrentar um duro golpe com a imposição da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, em vigor a partir de 1º de agosto. A medida pode afetar diretamente a produção de manga no Vale do São Francisco, com perdas estimadas em até 50 mil toneladas da fruta. Essa ameaça econômica se estende aos municípios de Juazeiro e Casa Nova, principais polos de cultivo da manga baiana, onde a dependência do mercado norte-americano é significativa.

A Bahia pode perder muito mais que frutas. Com a nova tarifa dos Estados Unidos, o impacto direto será sentido por agricultores, exportadores e trabalhadores que vivem da cadeia produtiva da manga no interior do estado. A fruticultura baiana, tradicional e profundamente enraizada no sertão irrigado, vê-se agora diante de um cenário de incerteza e prejuízos iminentes. O Vale do São Francisco, que já lida com os desafios do clima e da logística, agora enfrenta barreiras comerciais que ameaçam sua estabilidade econômica.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia, a imposição tarifária dos Estados Unidos atinge em cheio a janela de exportação que vai de julho a novembro, período vital para o escoamento da produção. No ano passado, o volume de mangas enviado aos EUA foi de apenas 36 mil toneladas. Em 2025, havia expectativa de retomar o patamar histórico de 48 a 50 mil toneladas, mas a nova política comercial norte-americana pode jogar essa meta por terra.

A importância do mercado norte-americano para a fruticultura da Bahia é inegável. Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da manga baiana, atrás apenas da União Europeia. Estima-se que 60% da manga produzida na região tenha como destino os EUA. Essa dependência comercial tornou-se um ponto de fragilidade que, agora, se manifesta com toda sua força. Sem soluções diplomáticas rápidas, o prejuízo poderá se tornar estrutural para o setor.

A produção de manga baiana ocupa mais de 50 mil hectares e envolve centenas de pequenos e médios produtores, além de grandes empresas exportadoras. O escoamento da fruta exige uma logística complexa e eficiente, pois se trata de um produto altamente perecível. A nova tarifa dos Estados Unidos pode não apenas inviabilizar as exportações como também comprometer o equilíbrio financeiro de produtores que investiram pesadamente na safra de 2025.

Embora a Europa continue sendo o principal destino da manga baiana, especialmente por meio da Holanda, que redistribui a fruta para países como Alemanha e França, o mercado europeu não tem capacidade para absorver sozinho todo o volume que deixará de ser enviado aos EUA. Isso significa que parte da safra pode apodrecer nos galpões ou ser vendida a preços muito abaixo do custo de produção, aprofundando ainda mais a crise.

A fruticultura no Vale do São Francisco é um símbolo de superação nordestina. Transformou o semiárido em terra fértil por meio da irrigação e da técnica. Mas o peso da tarifa dos Estados Unidos ameaça reverter anos de progresso. Os produtores agora se veem forçados a buscar alternativas emergenciais, renegociar contratos, repensar rotas de exportação e pressionar o governo federal por uma resposta urgente ao conflito comercial.

A tarifa dos Estados Unidos não é apenas um dado econômico: é uma realidade que pode arrasar uma cadeia produtiva inteira. Os reflexos já se fazem sentir no campo e nas cooperativas. Se não houver uma solução breve, a Bahia pode assistir à devastação de uma de suas principais riquezas agrícolas. A fruticultura, tão duramente construída ao longo das últimas décadas, corre o risco de se tornar vítima de um jogo geopolítico sem vencedores.

Autor: Amaury Benoit

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