A Bahia continua a ser o estado mais letal para as mulheres no Brasil, conforme revelado pelo Atlas da Violência, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O levantamento apontou que entre 2013 e 2023, 4.722 mulheres foram assassinadas no estado, tornando a Bahia a região com o maior número de homicídios femininos no país. Este dado traz à tona a triste realidade da violência contra a mulher, e coloca o estado no centro de um debate urgente sobre como as políticas públicas podem combater esse problema crescente.
O Atlas da Violência revelou que, entre 2020 e 2023, a Bahia registrou 1.781 homicídios femininos, destacando-se novamente como o estado com o maior índice de assassinatos de mulheres nesse período. No ano de 2023, foram 463 vítimas fatais, representando um aumento de 12,7% em comparação com o ano anterior. Esses números alarmantes não apenas evidenciam a gravidade da situação, mas também reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes para enfrentar a violência letal contra as mulheres na Bahia.
Além do alto número absoluto de homicídios de mulheres, o levantamento também apontou um dado ainda mais preocupante: a maioria das vítimas de homicídios femininos no estado é negra. Cerca de 87% das mulheres assassinadas entre 2013 e 2023 eram negras, o que demonstra uma intersecção entre racismo e misoginia, agravando as condições de vulnerabilidade para mulheres negras na Bahia. Essa estatística não é isolada, pois segue uma tendência observada em todo o Brasil, onde a violência contra mulheres negras é desproporcionalmente alta.
Em 2023, o Brasil registrou 3.903 homicídios de mulheres, com 2.662 vítimas sendo negras, o que representa 68% do total de homicídios femininos. A Bahia, portanto, se destaca negativamente em um cenário nacional de violência crescente contra mulheres negras. Esses dados tornam-se ainda mais graves quando se considera que, em muitos casos, os crimes acontecem dentro do contexto doméstico ou por conta de relações abusivas, sublinhando a urgência de medidas que protejam essas mulheres e ofereçam apoio adequado.
Além dos homicídios de mulheres, a Bahia também lidera o ranking nacional de homicídios em geral, com 61.249 assassinatos registrados entre 2015 e 2023. O estado não apenas apresenta o maior número de homicídios, mas também ocupa a posição de liderança em mortes decorrentes de ações policiais. Em 2023, 1.699 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, um aumento em relação ao ano anterior. Isso evidencia um cenário de violência extrema em várias frentes, onde a segurança pública parece estar em um ciclo de escalada de violência.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) tem se esforçado para conter esses índices alarmantes de violência. Em nota, a SSP destacou que as ações das Polícias Militar e Civil contribuíram para a redução das mortes violentas em Salvador e na Região Metropolitana (RMS). Entre janeiro e abril de 2025, houve uma queda de 12,6% em Salvador e de 15,7% na RMS em relação ao mesmo período de 2024. No entanto, esses números ainda estão longe de refletir uma solução para o problema da violência letal contra as mulheres, que segue crescendo.
A SSP-BA também ressaltou os esforços para melhorar o efetivo policial, com a contratação de 6 mil novos policiais e bombeiros, o que visa intensificar as ações preventivas e de inteligência. Além disso, a Secretaria anunciou investimentos em capacitação e tecnologia para aprimorar as estratégias de combate à violência, com o objetivo de reduzir os índices de criminalidade e salvar vidas. Porém, ainda não está claro se essas ações conseguirão inverter o quadro de violência que assola as mulheres na Bahia de maneira tão devastadora.
Este cenário de violência contra as mulheres na Bahia exige uma resposta mais incisiva por parte do governo estadual e das autoridades responsáveis pela segurança pública. As estatísticas de homicídios femininos, especialmente os casos de feminicídio, exigem uma abordagem mais direcionada e eficaz, com a implementação de políticas de proteção às vítimas e de combate ao machismo estrutural que alimenta essas agressões. A sociedade baiana precisa se unir para exigir mudanças e garantir que as mulheres possam viver livres de violência, com a certeza de que o estado as protegerá de maneira eficaz e contundente.
Autor: Amaury Benoit